Mini
Quem diria que um simples carro de economia acabaria por ser um dos carros mais reconhecidos de todos os tempos. Toda as pessoas desde crianças a idosos, fãs de carros ou não, sabem o que é um Mini. Os que tiveram um têm sempre histórias para contar e os que não tiveram desejam ter, mas porque será? Talvez a sua forma adorável que não parece nem machista nem feminista e a sua “pequenez” tenham tido um grande papel.
O Mini foi desenhado por um senhor chamado Alec Issigonis com o objetivo de ser “o carro do povo” britânico, tal como os italianos tinham o Fiat 500 e os franceses tinham o Citroen 2CV e a Renault 4. Ora para se desenhar um carro para o povo, este precisa de ser prático, pequeno, económico e barato, tal como os rivais italianos e franceses eram, cada um à sua maneira. A ideia que o senhor Issigonis teve foi fazer o carro o mais compacto possível de forma a ser leve e usar o mínimo de materiais possível, mas ao mesmo tempo fornecer espaço suficiente aos ocupantes. Para atingir as suas exigências, o carro tem um motor transversal em vez de longitudinal para ajudar a reduzir o comprimento do capô do carro. Isto pode não soar como uma coisa vanguardista, mas foi este carro que popularizou este conceito e que hoje é utilizado por praticamente todos os carros citadinos. Para alem do motor transversal, os painéis do carro eram montados ao contrário, ou seja, o carro era construído de fora para dentro e não de dentro para fora como todos os outros carros. A prova disso são os vincos que o carro possui á frente da porta do condutor e ao pé da luz traseira (ver imagem acima) que supostamente não deviam ser visíveis se o carro fosse construído com um método mais tradicional.
Esta fanática ambição por compactidade fez com que o Mini fosse um excelente carro citadino e também um excelente carro para o desporto motorizado, pois mesmo com um tempo dos 0 aos 100 km/h de 13 segundos, as suas dimensões e construção faziam com que o carro fosse um autêntico kart de tração à frente, dando uma total confiança ao piloto para mandar o carro para dentro de uma curva à velocidade que ele desejava. O Mini, por exemplo, conseguiu ganhar o rali de Monte Carlo em 1964, 1965 e 1967 contra Porsches e Lancias, tudo por causa da capacidade que o carro tinha de virar e manter a sua velocidade em curva. Para alem disso, o Mini também alcançou títulos nos campeonatos de turismo europeu e britânicos e ganhou provas de endurance na Australia.
O Mini original teve 7 gerações diferentes e esteve em produção um total de 41 anos, o que é considerado bastante tempo tendo em conta que atualmente cada carro é substituído, em média, a cada 7 anos. Foram produzidos por 10 entidades diferentes onde 3 delas eram britânicas e as outras 7 eram internacionais, a maioria em colónias britânicas.
A primeira versão do Mini começou a ser construído em 1959 pela British Motor Company e foi vendido inicialmente sob as duas marcas da BMC, a Austin e a Morris, passando a ter o seu próprio nome quando a BMC criou a British Leyland, que é conhecida como um autêntico desastre no ramo da indústria automóvel. O Mini acabaria por ser a única historia de sucesso vinda desta união automóvel britânica que acabaria por ser separada e vendida aos bocados em 1986. A partir daí a produção do Mini foi feita pela Rover até outubro de 2000 em que se produziram as últimas unidades e a dinastia acabaria.
Esta saga Mini com tantas versões e marcas diferentes ainda conseguiu ter alguns spin-offs, com adaptações do carro normal para a criação de outros tipos de veículo. Começando pela Mini Van (que passou a ser o Mini 95 a partir de 1978), que era uma carrinha comercial e com capacidade de transportar 250 Kg, algo inédito tendo em conta o tamanho microscópico. Foram produzidas cerca de 500 000 unidades.
Foi também feita uma versão familiar da Mini Van, o Mini Countryman (futuramente o Mini Clubman).
Houve também o Mini Moke, o hippie da família. Foi criado para utilização militar e tinha uma capacidade de percorrer subidas na ordem dos 50% de inclinação, mas como não tinha distância ao solo suficiente, acabou por ser mais bem-sucedido no mercado civil, que o viu como um excelente carro para ir à praia (ou como carros da polícia em certos países mais paradisíacos). Foram produzidas cerca de 50 000 unidades, uma parte delas em Portugal.
E finalmente a Mini Pick-up, que é exatamente o que o nome sugere e é talvez a pick-up mais adorável de sempre.
Durante as suas quatro décadas de produção, o Mini tornou-se um dos carros mais influentes do século XX e ganhou vários prémios como “carro do século” europeu e segundo carro mais influente do século XX, atrás do Ford Model T, que foi o primeiro carro a ser produzido em massa.
No entanto, o fim da produção em 2000 não seria o fim da Mini como marca, pois a BMW adquiriu a Rover Group em 1994 e ficou apenas com a marca Mini quando praticamente regurgitou a Rover e vendeu maior parte do grupo. Os primeiros Minis da nova dinastia começaram a ser vendidos em 2001, mas mesmo com versões melhoradas que foram estreando ao longo dos anos, estes nunca conseguiram cativar o publico da mesma maneira que o original e nunca conseguiram obter os seus níveis de encanto e de desejabilidade, isto porque os Minis de hoje são como os BMW de hoje, são carros desenhados apenas para objetivos comerciais, e que vão perdendo a alma à medida que o tempo passa.
Nenhuma das marcas tem a desejabilidade que tinha há 15 anos, mas a Mini é quem tem mais a perder com isso. Dá uma certa pena um carro tão alegre e reconhecido como o Mini acabaria por ter uma versão moderna que pouco ou nada lembra o original, mas, no entanto, talvez nos devêssemos sentir agradecidos pelo facto que a Mini ainda existe.